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Mais um Natal aconteceu

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Não gosto de natal. Não gosto das comemorações do Natal. Este ano está se encerrando e, mais uma vez, aconteceu entre nós as comemorações natalinas. Não sei porque, mas nunca gostei. Talvez, por falta de tradição e costume familiar por que sou de outro tempo. Criado na zona rural de Cacequi/Alegrete até os 9 anos, dia 24 de dezembro, sempre foi um dia como qualquer outro. Oito horas da noite do dia 24, todos estávamos na cama, aguardando o sono chegar. Não havia televisão com os apelos para vender presentes e motivar as crianças a comemorar o dia do nascimento de Jesus Cristo. Eram outros tempos. Outras necessidades.

Raramente, presenciávamos outras crianças com presentes do Papai Noel no dia 25. As meninas exibiam bonecas e os meninos bola, invariavelmente, quando recebiam presentes. Nossos pais, em algumas oportunidades e quando havia mais recursos além dos necessários à alimentação, nos brindavam com alguns modestos presentes. Era difícil. Afinal, oito presentes para atender a todos. Com o tempo, acabei cedendo à tradição, mais por força do nascimento dos filhos que vieram em outra época e me rendi e dar presentes e comemorar a noite natalina, mas sem muito entusiasmo, especialmente em razão da discriminação que esta festa provoca.

Alguns ganham presentes valiosos; outros mais modestos, mas uma grande quantidade fica à espera de campanhas natalinas, Natal dos correios e de outras entidades e ONGs que presenteiam algumas crianças. Cria-se uma expectativa nas crianças de que devem receber presentes do bom velhinho, inclusive com forte apelo publicitário no rádio e televisão com sessenta ou mais dias de antecedência à data.

Nesse abastado Natal, outra circunstância deve nos levar a uma reflexão. Crianças catando lixo, com ou sem seus pais; em número maior nas esquinas com as mãos estendidas em direção aos motoristas de um outro extrato social, clamando por um "trocado".

 Estamos próximos a 40 milhões de famintos que resultará em parcela significativa de subnutridos para um próximo futuro. São 15 milhões de desempregados, vivendo de caridade e campanhas sociais que arrecadam alimentos e promovem "sopões", restaurantes populares, etc. São milhões de desempregados, no mínimo, 45 milhões de pessoas atingidas, se consideradas famílias de três pessoas. Os efeitos disso se refletem rapidamente na formação do nosso futuro.

A semana passada, por exemplo, noticiou-se que, só no Rio Grande do Sul, 33,6 mil crianças do ensino básico deixaram de ser matriculadas este ano. Eu disse ensino básico. O Ensino Fundamental, Médio e EJA também tiveram decréscimo. Isso passa despercebido de quase todos. Assumimos como se fosse normal, sem relevância, sem consequência. Seguimos a política dos governos: nada para a educação; nada para a fome, tudo para fundos eleitorais. Estamos anestesiados. Nada nos atinge. Parece que não nos diz respeito tudo isso.

Entretanto, devemos não esquecer que a miséria parcial de hoje pode em breve se tornar a miséria de quase todos. A cada ano, está pior. Mais pessoas miseráveis. Menos crianças nas escolas e isso vai se multiplicando geometricamente a cada tempo. De nada adianta nossos legisladores incorporarem normas constitucionais de que a saúde e educação são direitos inalienáveis de todos e obrigação do estado.

Entre os direitos sociais, a nossa carta garante - art. 6º - a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. A nossa realidade está bem distante dessas normas programáticas. Assim, temos muito pouco a comemorar neste Natal. Resta confraternizar entre famílias, quando ainda for possível.

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